Laqus (antiga M2M) quer disputar com a B3 depósito de título privado

Laqus (antiga M2M) quer disputar com a B3 depósito de título privado

NA MÍDIA – VALOR ECONÔMICO | Maio de 2019

O mercado de depósito de títulos de dívida corporativa, hoje dominado pela B3, pode ter um novo competidor. A empresa de tecnologia Laqus (antiga Mark 2 Market) acaba de protocolar um pedido junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de autorização para funcionar como Central Depositária de Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), um título privado. Mas esse é só o primeiro passo para entrar no mercado, que, em outros países, é bem mais pulverizado.

A meta de Rodrigo Amato, fundador da Laqus, é alcançar voos mais altos depois que o modelo de negócio – e a segurança do sistema – se provar. “Queremos, mais para frente, expandir nossa atuação para outros segmentos do mercado de dívida corporativa. Mas primeiro precisamos mostrar ao mercado e à CVM que temos capacidade técnica e operacional para ser depositária de CRAs”, diz Amato.

O executivo, que antes de fundar a empresa trabalhou com estruturação de derivativos, renda fixa e captação de recursos para médias e grandes empresas nos bancos Itaú e Santander, diz que não quer competir com a B3. “A bolsa é verticalizada em serviços, é difícil disputar com ela os clientes. Nosso público será a distribuidora e não os bancos”, conta Amato.

Hoje, quando uma empresa decide emitir uma dívida, os assessores da emissão – bancos e escritórios de advocacia – escolhem o custodiante, que são geralmente os próprios bancos, e a depositária dos títulos. Como só existe a B3 no mercado brasileiro, não há muito o que discutir. As informações sobre a emissão são passadas à securitizadora, que estrutura o papel. A partir daí as distribuidoras (corretoras independentes e de bancos) se encarregam de vender os títulos a investidores.

A ideia da Laqus é convencer as distribuidoras, que estão na ponta de venda, a pedir que as emissoras a escolham como depositária. Um de seus diferenciais será a especialização no mercado de CRA, no qual já atua com um software de gestão para tesourarias de empresas. Só no segmento de CRAs, são gerenciados em sua plataforma R$ 18 bilhões, o que significa metade desse mercado.

Outra vantagem será disponibilizar aos distribuidores informações também das empresas menores. “Com a autorização de depositária da CVM, poderemos cobrar dos clientes relatórios periódicos com investimentos e desempenho financeiro, que farão parte da análise de preço e risco desses títulos. Isso aumenta a transparência e dá espaço para as menores também disputarem esse mercado de dívida corporativa”, afirma Amato.

Fundada em 2010, a Laqus começou oferecendo serviços de consultoria em emissões de dívida corporativa. Ao perceber a dificuldade que as companhias tinham para gerenciar suas operações financeiras e controlar os riscos dessas emissões, Amato levantou dinheiro com dois fundos de investimento, o A5 Capital Partners e o family office Mantiqueira Participações, para contratar desenvolvedores e construir um software para esse mercado.

Além de ajudar a tesouraria e a diretoria financeira na gestão operacional de dívida corporativa própria (emissões em mercado de capitais, bancárias ou entre empresas), pelo software eles também podem acompanhar outras operações da empresa, como aplicações financeiras e derivativos. Os executivos têm ainda acesso a informações atualizadas sobre o mercado de dívida e cotações para tomar de decisões – dados que nem sempre são fornecidos pelas instituições bancárias.

“Se o tesoureiro acorda e lê uma notícia política que pode impactar o mercado, precisa chegar na empresa e ter informações suficientes para decidir se vale antecipar o pagamento de uma dívida, fazer um contrato de hedge cambial ou qualquer outra coisa da sua alçada”, diz Amato. Atualmente, a plataforma gerencia R$ 183 bilhões de dívida corporativa como um todo (CRA, debêntures e outros títulos de dívida).

Por ser um mercado que, até então, só teve um grande competidor – antes a Cetip e, desde a fusão com a BM&FBovespa, em março de 2017, a B3 -, a Laqus se preparou por um bom tempo antes de entrar com a solicitação. Nos últimos sete meses, foram diversas reuniões com o escritório de advocacia Pinheiro Neto, seu assessor jurídico no processo, e com a Infra Soluções, consultoria de ex-funcionários da Cetip.

Desde que a CVM publicou mudanças nas instruções que ditam quem pode ou não fazer parte da infraestrutura do mercado financeiro, foram poucos os que se aventuraram para tentar competir com a B3. É ela quem atua como registradora e depositária das ofertas tanto no mercado de renda fixa, quanto no de ações.

No mercado de capitais, a ATS tentou competir com a B3, mas ainda não obteve autorização. No segmento de depósito de dívida corporativa, até agora, ninguém havia entrado com esse pedido, segundo a CVM. “Trata-se da primeira solicitação realizada junto à autarquia, para atuar como central depositária, após edição da instrução 541, de 2013, que dispõe sobre o assunto. O pedido da empresa Laqus está sendo analisado pela Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários (SMI) da CVM”, disse a reguladora em nota ao Valor.

A categoria em que a Laqus quer atuar é conhecida como Infraestrutura do Mercado Financeiro, ou IMF, em que organizações possibilitam às empresas e investidores se encontrarem e obterem informação umas sobre as outras e sobre as operações realizadas, de forma segura e independente. Quem quer comprar e vender títulos, por exemplo, precisa passar por esse ambiente. Nele são oferecidos serviços como registro, depósito, liquidação, entre outros.


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